No Marketing Online pedem-nos para sermos hackers todos os dias. Alguns apercebem-se disso, outros não.
Na minha licenciatura de 4 anos na Escola Superior de Comunicação Social, em Lisboa, aprendi muita coisa. O programa era ambicioso, sem dúvida: desde a sociologia à estatística, passando pela gestão de produto ou pelo Inglês aplicado ao marketing, falou-se um pouco de tudo.
Tive aulas inesquecíveis que ainda hoje estão bem presentes na minha memória e disciplinas que pura e simplesmente me passaram totalmente ao lado. 4 anos depois, estava finalmente com licença para aprender no mercado de trabalho e descobrir se toda aquela teoria que tinha absorvido se aplicava na prática.
O ingresso no mundo real está cheio de desafios interessantes e é natural que se compare o que se aprendeu com o que se tem de lidar no dia-a-dia depois disso. Descobrimos, por exemplo, que aprender a utilizar o SPSS até parecia importante, mas que alguém se esqueceu de o instalar nos computadores das empresas (pelo menos, das várias pelas quais já passei).
Houve informação que se calhar não era assim tão necessária, mas o objectivo do post não é, de todo, criticar as decisões da minha antiga escola.
O problema? Faltou-me uma disciplina. Uma temática que devia fazer parte de qualquer programa de Marketing e que ainda vai a tempo de passar a ser requisito: o Hacking.
Hacking: a definição
Ao contrário do que muita gente pensa, um hacker não é forçosamente um indivíduo que acede a um computador de forma não-autorizada para roubar um cartão de crédito e comprar uma banda desenhada na Amazon.
Um hacker é qualquer pessoa que esteja disposta a conhecer a fundo um sistema para explorá-lo em sua vantagem.
Basicamente, se quisermos hack the system temos primeiro de o dominar – conhecer o seu algoritmo, entender o que é capaz ou não de fazer – para depois o utilizar para o nosso próprio bem.
Não é estranho que este termo se possa aplicar ao Marketing Online; no fundo, espera-se que este profissional seja o Houdini dos tempos modernos, que garanta que uma empresa chegue a #1 no Google ou tenha o maior número de likes no Facebook.
Para tal, é preciso conhecer a plataforma em questão, sem dúvida. Mas é preciso com essa informação ser-se criativo depois.
Talvez seja por isso que os growth hackers estão agora tão na moda para as start-ups – todas as empresas querem crescer de forma acelerada e estão dispostas a pagar bem para uma pessoa que tenha a criatividade e o conhecimento necessários para tal.
PageRank, EdgeRank…
O Online nunca pára – por isso é que eu gosto tanto dele. Ontem foi o MySpace, hoje é o Facebook e amanhã será outra coisa qualquer. Enquanto profissionais, estamos constantemente a ser testados, visto que precisamos não só de dominar as plataformas que já utilizamos a fundo como acompanhar as novas tendências.
Um dia temos de decorar os 200 factores que influenciam o algoritmo do Google, noutro temos de saber como contar histórias em 140 caracteres num ambiente super barulhento. E claro, temos de conhecer o EdgeRank do Facebook de cor e salteado.
O que eu gostava de ter tido na escola não era uma cadeira sobre algoritmos que ainda nem sequer existiam – era alguém que me dissesse que era isso que iam esperar de mim quando chegasse aqui.
Assim, podia-me ter logo mentalizado que o meu trabalho seria basicamente o de um camaleão, alguém que se tem de adaptar rapidamente ao novo contexto e brilhar em cada nova plataforma que surja e traga com ela uma user base.
As boas notícias
Quando o Google decide mudar a sua receita secreta (com um Panda/Penguin/Hummingbird/etc) metade dos negócios online vão abaixo. Quando o Facebook faz experiências no EdgeRank, milhares de posts de páginas não chegam sequer a surgir nas feeds dos utilizadores.
Porque é que estas empresas são obcecadas em fazer este tipo de alterações? Simples – é o segredo para o seu sucesso.
Vamos ao Google porque sabemos que se tivermos uma pergunta, os resultados que ele nos dá têm uma elevadíssima probabilidade de dar a resposta. Vamos ao Facebook porque confiamos que, no meio de tanta informação partilhada diariamente pela nossa rede, a plataforma nos irá apresentar aquilo que é realmente imperdível primeiro.
E isso nem sempre é possível… por causa dos hackers.
A malta que sabe como o algoritmo funciona e que tenta aparecer no topo da lista devido a isso, apesar de ter consciência de que o seu produto não é assim tão bom. A malta que produz conteúdos para máquinas, não para humanos.
No mundo online, é tudo relativamente efémero, daí o hacking ser tão apetecível – mesmo que a popularidade dure pouco tempo, é o expectável nos dias de hoje.
Mas não tem de ser assim. As redes sociais e os motores de pesquisa procuram alcançar a perfeição e, por “perfeição”, entenda-se tornarem-se mais humanos. Menos permeáveis a este tipo de hacking e mais orientados para o que realmente importa para o seu estimado utilizador.
A intenção deles não é ocultar-nos a informação que realmente pretendemos, pelo contrário – só assim continuaremos a visitá-los e a trazer-lhes dinheiro. Menos visitas = Menos anúncios.
Quanto mais perfeitos, mais justiça haverá – e, a longo prazo, serão essas as marcas e empresas a sobreviver.
A bela conclusão
O futuro para quem quer saber das pessoas parece risonho – se criarmos bons conteúdos, se pensarmos na nossa audiência, se procurarmos oferecer-lhes aquilo que é realmente relevante para todos, então estaremos no bom caminho para que o Google, o Facebook ou seja o que for que venha a seguir nos beneficie.
Os vilões, esses, poderão ter os seus 15 minutos de fama, mas rapidamente serão uma nota de rodapé.
Deve-se sempre pensar nas pessoas primeiro. São essas que devemos agradar e tornar o ponto central de toda a nossa estratégia. Não um algoritmo.
Pensando bem, ainda bem que não tive Hacking na escola.