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A Privacidade e o Marketing Online

Privacidade no Mundo Online

A Privacidade e o Marketing Online

A Privacidade e o Marketing Online 620 350 Bruno Brito

“Quando te custa 0, o produto és tu”

Esta foi uma frase que li há alguns anos atrás e que não esqueci desde então. O impacto da mesma em mim foi tal, que sempre que vou a uma universidade dar uma palestra faço questão de a citar.

Existe outra expressão parecida, por sua vez bem mais popular: “não há almoços grátis”.

Sabemos que há sempre alguma contrapartida quando podemos utilizar um serviço ou uma marca sem ter de pagar algo. O que querem em troca? O nosso tempo? Um favor? O nome de um amigo?

Quando não há absolutamente nada pedido de volta, encaramos a experiência de forma tão estranha e suspeita, que saímos de lá a olhar para trás, à espera de alguma surpresa no último segundo. “Não pode ter sido assim tão fácil”, pensamos.

O engraçado é que no que toca ao Online, a mentalidade já não é essa.

Para a maioria das pessoas, o processo é muito simples:

  1. Conhecem um novo serviço;
  2. Ficam interessadas e inscrevem-se;
  3. Aceitam os Termos e Condições sem pestanejar;
  4. Utilizam o serviço até que este fica tão popular que os media rapidamente comunicam os “riscos de privacidade” que todos corremos;
  5. Consoante a polémica do ponto anterior, um determinado número de pessoas desiste do serviço por sentir a sua privacidade violada (os restantes permanecem).

Acontece com o Facebook. Acontece com o Dropbox. E acontece com o Gmail. Todos eles serviços gratuitos e que utilizamos diariamente.

É engraçado testemunhar o choque de algumas pessoas quando descobrem que o Gmail está, de repente, a colocar publicidade relacionada com o assunto do e-mail que têm aberto. Ou quando reparam que estão a receber vídeos de publicidade no Facebook de produtos relacionados com os seus interesses.

Eles estão a ler o meu e-mail! Eles sabem do que eu gosto! Como se atrevem?

Pode ser coincidência, mas frequentemente verifico que as pessoas mais obcecadas com a sua “privacidade no espaço online” são simultaneamente as pessoas mais descuidadas – aquelas que clicam em qualquer link que recebem de um estranho, que instalam qualquer aplicação sem sequer saberem do que se trata e que escolhem passwords totalmente inseguras.

E a melhor parte? São também essas pessoas que partilham todos os seus pensamentos nas redes sociais, ficando depois em choque quando descobrem que o antigo colega da faculdade está a par de todos os detalhes da sua vida pessoal.

If it's on the internet, it isn't private.

Ainda assim, estas pessoas sentem que não estão no direito de ser enganadas por qualquer site da Internet, por mais suspeito que o mesmo pareça.

Como é que chegámos até aqui? Aqui fica uma breve explicação.

A emergência das start-ups

Todos os dias, jovens empreendedores encontram uma lacuna no mercado: algo que sentem que faz sentido existir mas que ainda ninguém conseguiu implementar com sucesso.

É assim que nasce um novo serviço online, muitas vezes de nicho (como uma rede social para partilhar… segredos).

A estratégia para a monetização destas empresas é simples: criar uma userbase suficientemente dinâmica e populosa para atrair os investidores, para que possam obter mais fundos e crescer ainda mais.

O problema

A dada altura, esses mesmos senhores vão querer resultados, ou seja, retorno. E muitas vezes, essas tais plataformas excitantes e gratuitas terão de pedir algo em troca aos seus utilizadores: geralmente, para manter o custo zero para o utilizador final, optam por aceder à informação que estes lá foram adicionando.

A cada fotografia que colocamos no Facebook, a cada vídeo que fazemos upload para o YouTube, a cada música no Soundcloud, mais um disco rígido fica cheio e mais um tem de ser comprado – um custo. Quanto mais pessoas visitam o YouTube, maior a largura de banda necessária para vermos os vídeos sem paragens – outro custo. Naturalmente, para que estes serviços continuem gratuitos, algo teremos que dar em troca.

Certamente serviços como o Facebook, o YouTube ou o Gmail seriam bem menos apelativos se tivéssemos de pagar 10 dólares por mês para os utilizar. O que faria a maioria? Mudaria de serviço, passando para algo grátis novamente – até ao dia em que esse serviço chega também ele ao seu limite e se torna o próximo a pedir algo em troca.

A solução

Encontrou-se uma solução, a meu ver bastante plausível para isto: nós utilizamos estes serviços e partilhamos os nossos hábitos de consumo. Em troca, recebemos publicidade vinda de marcas e entidades que desejam explorar esses mesmos hábitos.

Esta decisão faz sentido para as marcas, claro: podem comunicar de forma bem mais pertinente. Afinal de contas, não faz muito sentido gastar dinheiro a apresentar um clube de fãs do Sporting a quem fez like à página oficial do Benfica, por exemplo.

Mas…

Nem todos os utilizadores estão interessados nesta troca. Não querem o assédio, dizem. Para esses, tenho alguns conselhos:

  • Leiam os termos e condições do princípio ao fim antes de clicar em sign-up;
  • Não utilizem serviços de e-mail que procuram monetizar com publicidade, como o Gmail;
  • Não coloquem fotos no Instagram – aprendam HTML ou WordPress, comprem um domínio e um hosting e alojem lá as vossas fotografias;
  • Não coloquem vídeos no YouTube – façam o mesmo que para as fotos;
  • Não façam like a nenhuma marca no Facebook;
  • Paguem pelos serviços que necessitam, aqueles que prometem que não vão explorar a informação que lá é depositada, em vez de utilizarem as soluções gratuitas e mainstream.

Difícil de acontecer, certo?

Estes conselhos são praticamente impossíveis de seguir para a esmagadora maioria das pessoas. Ninguém quer descobrir como se compra um domínio ou como funciona o WordPress. A Internet deixaria de ser um local tão divertido para muitos e bem mais caro ao final do mês. Passaria tudo a ser bem mais técnico e complicado – como era há 10 anos atrás, convenhamos.

Parece fazer sentido deixar tudo como está. Sendo assim, só falta esclarecer uma questão:

Temos assim tanto a esconder?

Enquanto utilizador, não tenho qualquer problema que o Facebook me pergunte se quero fazer like a um lutador de Wrestling por ser fã da WWE. Não me importo que o YouTube me recomende um vídeo do Ultra Music Festival por ter visto outros 300 vídeos de música electrónica no último mês. E não me importo que o Gmail me alerte de que há um serviço relacionado com o tópico que estou a discutir no e-mail que tenho aberto.

Na verdade, essas sugestões até são bem-vindas, porque tomo conhecimento de algumas coisas bem interessantes que de outra forma me passariam ao lado.

Sou profissional de Marketing, mas, primeiro, sou um consumidor. E enquanto consumidor, aceito esta transacção: os serviços permanecem gratuitos e eu digo-lhes o que gosto e o que não me interessa… as marcas irão depois bater-me à porta.

Se me sinto perseguido? Não. Nem sou assim tão especial… sou apenas um de 7 biliões.

Fotografia:

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