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Criatividade

O Processo Criativo

Os 8 passos do Processo Criativo

Os 8 passos do Processo Criativo 620 350 Bruno Brito

Este é um tópico engraçado. Apesar de não ser imediatamente associado ao Marketing, é inegável que alguns dos maiores profissionais do ramo são também tremendamente criativos – nem que seja pelo hacking, conforme referido num artigo anterior.

Quase todo o ser humano gosta de criar, mas não criamos todos o mesmo. Apesar de ser algo tão universal, o processo criativo é uma das coisas mais pessoais que podemos ter; afinal de contas, mesmo com normas relativamente rígidas, dificilmente 2 pessoas seguirão o mesmo caminho e apresentarão o mesmo produto.

Esta é a primeira lição que se pode retirar e ainda estamos na introdução: o Processo Criativo varia de pessoa para pessoa. Mas apesar de ser algo individual, penso que há alguns ensinamentos que se podem aplicar a qualquer criação e que valem a pena ser partilhados.

O meu caso pessoal

As minhas criações são um espelho dos meus principais interesses. Já produzi algumas músicas (exemplos aqui) e há já vários anos que entrego noutro site meu, do meu alter ego DJ Bammer, um mix por mês. Para além de pegar em sons, também gosto de pegar em palavras – prova disso é este blog ou os meus artigos publicados no site da maior comunidade de Wrestling de Portugal, o Wrestling.PT. Falando em Wrestling, fui durante vários anos treinador e lutador de Wrestling– essa função obrigava-me a produzir treinos e combates todas as semanas, onde a criatividade era sempre posta à prova.

Estes são apenas alguns exemplos. Apesar de escrever ser obviamente diferente de produzir música ou de entrar no ringue, há muita coisa em comum. Este artigo serve para partilhar algumas das aprendizagens, ao mesmo tempo que descrevo o meu próprio processo criativo.

Os 8 passos

Em qualquer um daqueles 3 exemplos, o meu processo passa quase que obrigatoriamente por estes 8 passos:

  • #1: O que motivou a criação
  • #2: O factor “história”
  • #3: O roubo
  • #4: O toque pessoal
  • #5: O tempo de reflexão
  • #6: O aperfeiçoamento
  • #7: O lançamento
  • #8: O que se aprendeu

Dependendo do prazo e do projecto, este processo pode demorar 30 minutos ou vários anos. Vivemos num mundo cada vez mais “em beta”, onde tudo é um work in progress – com cada vez maior frequência ouço histórias de bloggers que publicam artigos sem qualquer revisão ou de programadores que lançam apps cheias de bugs simplesmente para chegar primeiro ou para testar a aceitação do mercado. A revisão vem depois.

Este imperfeccionismo já é tão popular que é até visto por muitos como uma forma mais inteligente de trabalhar, mas discutir este tópico vai para além do âmbito do artigo de hoje – as boas notícias é que mesmo num prazo apertado, cada vez temos mais oportunidades de melhorar a nossa criação depois desta ter sido publicada.

Tempo agora de resumir o que acontece a cada passo do processo. Como passamos de uma folha em branco para o produto final?

Folha de papel vazia

#1: O que motivou a criação

Criei este blog para ajudar profissionais de marketing e para melhorar a minha escrita. Comecei a partilhar os meus DJ mixes porque havia demasiada música boa que queria que o mundo conhecesse. Entrei no ringue porque queria seguir as pisadas dos meus heróis.

Em todos os casos existiu um motivo. Algo que me incentivasse a alocar esse tempo à realização de uma tarefa em detrimento de outra – a fazer música em vez de pintar, por exemplo.

Nem sempre as nossas motivações são fortes e nem sempre são nossas – pode ser simplesmente o nosso trabalho, queiramos ou não. Mas haverá sempre uma razão para que este processo se desenrole.

#2: O factor “história”

Nunca fui grande fã de estudar história, mas quando criamos algo devemos fazer um esforço por entender o que veio antes de nós. Alguns chamam a isso “trabalho de pesquisa” e nem sempre ficam entusiasmados com a ideia, enquanto que outros adoram esta fase por ser um período de consumo ou por serem fãs da temática.

Se me pedissem para escrever um artigo sobre energia nuclear dificilmente estaria ansioso por começar a minha pesquisa. Não seria certamente a isso que dedicaria as minhas horas livres. Mas gosto de ler, de ouvir música e de ver combates de Wrestling, daí ser fácil para mim produzir algo relacionado com estes tópicos – estou familiarizado com a história e é fácil ser inspirado pelo que foi feito antes de mim.

“If you don’t have time to read, you don’t have the time (or the tools) to write. Simple as that.” – Stephen King

Nunca começamos do 0 – há sempre alguém que veio antes de nós que abriu portas para onde estamos agora. Mesmo aqueles que quebram correntes e pensamentos antigos tiveram primeiro de os conhecer para depois colocar tudo em causa. Este ponto de partida é importantíssimo.

#3: O roubo

Já dizia Pablo Picasso:

“Good artists copy, great artists steal.”

E esses roubos nem sempre são vistos com bons olhos. Mas a verdade é que há uma diferença entre ser uma cópia, um ripoff de alguém e retirar alguns elementos que nos inspiram e que queremos aprofundar na nossa abordagem criativa.

Nunca devemos copiar alguém – não há qualquer incremento de valor se apenas pegarmos em algo e fizermos copy/paste – nem nos dará qualquer gozo. Mas podemos e devemos aprender com aqueles que vieram antes de nós, roubar de cada um aquilo que nos chamou a atenção e desenvolver essas ideias.

Até podemos ir mais longe – tudo é um remix. O vídeo em baixo, de uma Ted Talk de Kirby Ferguson, responsável por esse site, é um bom exemplo disso mesmo.

Este é um passo fulcral, que de certo modo contribui na definição do nosso estilo enquanto artista. O meu próximo livro a ler aborda precisamente este tema: “Steal Like an Artist”, de Austin Kleon.

#4: O toque pessoal

Este passo pode nem ser o mais demorado mas será aqui que deixaremos a nossa marca. O trabalho de casa está feito e agora é tempo de lhe dar o nosso toque (ou, como alguns dizem, criar).

Aqui damos basicamente o nosso twist a algo que já existe – o nosso próprio remix. Certamente não sou a primeira pessoa a escrever no seu blog sobre este tema. Mas será que alguém já escreveu sobre este tópico, em Português, apelando à sua experiência enquanto DJ e lutador de Wrestling? Pouco provável.

Pegamos em tudo o que conhecemos, tudo o que nos inspira, tudo o que já foi feito e que pretendemos homenagear e misturamos tudo isso com a nossa identidade – o resultado final será algo que podemos chamar de nosso.

Pessoalmente, gosto de “deitar tudo cá para fora” nesta fase – experimentar todas as ideias, escrever tudo o que me vai na cabeça, sem julgar de imediato. Haverá uma altura para isso, mas não será já.

#5: O tempo de reflexão

Se tivermos o luxo do tempo, o próximo passo será o de reflexão. O que acabámos de criar fica “de molho”, para revisitar mais tarde.

Quando faço um mix, gosto de guardar o projecto e de não pensar mais nisso até ao próximo dia. No dia seguinte, se depois de o voltar a ouvir ainda fizer sentido, gravo em mp3 e levo-o no telemóvel para o autocarro, para o ginásio ou para o trabalho e vejo se continua a fazer sentido aí.

Acontece o mesmo com a escrita. Nunca publico um artigo no dia em que o escrevo. Às vezes fica no computador 1 dia, 1 semana ou 1 mês até voltar a ser lido.

Muitas vezes, o desafio está em conseguir encarar algo com orgulho depois de termos saído do buraco em que nos enfiámos para o criar. Se sobreviveu ao teste do tempo e estamos satisfeitos com o que acabámos de fazer, então temos boas chances de ter produzido algo com qualidade.

#6: O aperfeiçoamento

Depois de darmos o passo anterior, muitas vezes verificamos que é necessário aperfeiçoar alguns aspectos da nossa criação.

Por aperfeiçoamento pode-se entender todo o tipo de ajustes: no caso da escrita, podemos corrigir eventuais erros ortográficos, editar a formatação ou verificar se as ideias representam aquilo que queríamos comunicar e se o produto final nos parece honesto e fiel ao pretendido no passo #1.

Pessoalmente, não sou grande fã de aperfeiçoar antes de chegar aqui, mas como já disse, o processo de cada pessoa é diferente – há quem goste de ir editando o texto à medida que o escreve, por exemplo.

O mesmo acontece na música, quando verifico os níveis de volume ou a equalização na passagem de uma música para outra, ou quando corro os combates que estou prestes a ter na minha cabeça para entender se farão sentido face à audiência que está para lá do balneário. É aqui que surgem as nossas questões e as melhorias, o tal fine tuning.

Nesta fase (e especialmente quando não existem prazos) as barreiras mentais são o verdadeiro alvo a abater – poderia levar 1 vida a encontrar as 12 músicas perfeitas para um mix. Poderia dedicar 10 anos a editar uma frase de 5 palavras. Mas aí corremos o risco de acabar por nunca lançar o resultado cá para fora. De certa forma, estabelecer um prazo ajuda a superar este conflito.

Há quem todos os dias sente que há algo que deve ser editado e quem edite um dia e nunca mais pensa nisso.

É um ponto de equilíbrio difícil de gerir, mas temos de conseguir (pelo menos) superar aquele desconforto de dar uma obra como terminada e desligar-nos emocionalmente desse projecto e avançar.

Há uma altura em que temos simplesmente de carregar no botão de lançamento e passar ao desafio seguinte.

Yay - tempo de lançar

#7: O lançamento

E pronto. Pode levar apenas alguns minutos ou pode levar décadas, mas finalmente é tempo de mostrar ao mundo aquilo que andámos a fazer.

Por vezes temos prazos apertados e lançamos algo que consideramos “imperfeito”. Nem sempre o produto final está 100% em linha com o que aspirávamos no passo #1. Mas este dia tinha de chegar e é tempo de pensar onde vamos a seguir, dando entretanto um olhinho à aceitação da nossa audiência (se for caso disso) no que toca a esta criação.

Muitos não chegam até aqui, pelo que devemos estar sempre de parabéns quando temos algo novo pronto a lançar!

#8: O que se aprendeu

O processo de criação enriquece-nos sempre. Às vezes sentimos uma enorme satisfação pelo simples facto de termos terminado algo, por acharmos que não seríamos capazes de alcançar tal proeza ou por termos aprendido coisas que desconhecíamos sobre nós pelo caminho. Mas nunca saímos de lá iguais.

Vale sempre a pena… e muitas vezes a viagem é mais emocionante que a conclusão.

“Focus on the journey, not the destination. Joy is found not in finishing an activity but in doing it.” – Greg Anderson

São lições que retiramos também para criações futuras – porque nunca sabemos quando é que aquele post se vais transformar num livro, ou aquele mix pedirá uma actuação a condizer. Poderá nunca ser a obra perfeita, mas para lá caminhamos após cada falhanço.

Considerações finais

Esta é a minha receita para criar – certamente não será muito diferente do meu vizinho, mesmo que se aplique à pintura ou à escultura. Espero que faça sentido e inspire outros criadores!

Gostaria ainda de aproveitar para sublinhar 2 fortes lições relacionadas com este tópico e com o suposto “perfeccionismo” que tanta vez ataca o criador: a história da musa e o mito das ferramentas.

A história da musa

Muitos criadores querem ser escritores a tempo inteiro, mas não o encaram como uma profissão – não lhe dedicam 8 horas por dia nem escrevem todos os dias da semana. O mesmo se poderá dizer de muitos aspirantes a músicos, por exemplo.

A maior parte destes senhores está à espera que a musa lhes bata à porta, pois nesse dia tudo acontecerá – o livro será escrito num ápice, a música será produzida numa tarde e a tal pintura perfeita surgirá naturalmente.

O problema é que nestas profissões, o tempo e o trabalho também importam. Não são golpes de sorte – pelo menos em 99% dos casos – e os dividendos só surgirão para aqueles que dão a cara diariamente.

Se acreditas numa musa e queres que ela te bata à porta, pensa que terás mais chances de tal acontecer se quando ela for a tua casa estiveres já no computador a trabalhar, em vez de sentado no sofá a ver televisão.

Se não estiveres a trabalhar, a musa vai ver que hoje não é um bom dia para te incomodar e vai deixar-te em paz com o teu programa, seguindo até à porta de outra pessoa que está a acumular mais horas à frente do processador de texto do que tu.

Basicamente, a musa só inspira quem merece.

O mito das ferramentas

Uma excelente desculpa para não começar é a da falta das ferramentas certas. Por exemplo, na produção musical é frequente o debate de qual o melhor DAW (Digital Audio Workstation) e eu próprio perdi muitas horas a ler sobre todas as diferenças entre o Ableton Live, o Logic e o Fruity Loops, em vez de as dedicar a fazer música.

O mesmo se pode aplicar à escrita. Será melhor escrever no Notepad, no Word ou no SublimeText? Não são só palavras e juntá-las?

A maior parte dos criadores com sucesso dominaram a arte de fazer e não a ferramenta – não se importam de passar para outra, se os benefícios para o seu trabalho forem claros, mas a ferramenta é apenas um meio para chegar a um fim; não é “o” trabalho.

Não é por escrevermos com uma caneta azul que deixaremos de saber escrever se passarmos para uma de cor preta. Ou se escrever à máquina em vez de à mão. Ou se usar o Word em vez do Notepad. E o mesmo acontece em qualquer outro caso.

Vivemos num mundo com demasiada oferta: se queremos uma app que faça x e se precisarmos de uma outra app que acrescente y, descobrimos que ambas já foram criadas. Mas cada hora dedicada a consultar fóruns sobre qual a melhor é menos uma hora a fazer o que realmente importa.

Ainda neste tópico, não subestimes o poder da limitação – quanto mais rudimentar for a tua ferramenta, quanto mais limitado estiveres, maiores serão as tuas chances de te focares naquilo que realmente importa: criar.

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